Como
integrar a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental ao desenvolvimento
dos países? Os desafios dessa gestão compartilhada foram tema da plenária
principal no terceiro dia do Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento
Sustentável (EIMA 8). Entre os temas debatidos está o crescimento urbano, a
degradação e o enfretamento da escassez dos recursos hídricos na região.
Embora
a região viva um momento econômico interessante, com Brasil e outros países
latino-americanos em expansão, a demanda por uma melhor gestão hídrica, em
especial nas cidades, é consenso para os especialistas. A grande concentração
populacional nas cidades, em especial nas metrópoles, evidenciou a necessidade
de se discutir mais detalhadamente a questão ambiental, exigindo hoje um
planejamento eficaz e de abrangência regional, prioritariamente para os
recursos hídricos.
“É
fundamental que possamos trabalhar juntos na construção e identificação dos
problemas hídricos”, afirmou Ignacio Martín, presidente de Iberoaqua, ao falar do
papel que cada um exerce na gestão dos recursos hídricos. Para ele, são
necessários exemplos para que cada um possa aprender e compartilhar com o outro
as soluções para seus países.
Visão integrada
Em
sua palestra, o coordenador do Programa Hidrológico Internacional da Unesco (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Victor Pochat, destacou que é preciso olhar as
características de cada região quando se fala em gestão de recursos hídricos.
“Precisamos de conhecimento para compartilhar soluções”, enfatizou.
Outro
ponto importante, de acordo com o coordenador, são os investimentos em ciência
e tecnologia. “Estamos desenvolvendo estudos para identificar qual é a
influência das ações humanas no ciclo hidrológico. Ainda existem muitas
demandas pelo conhecimento da sua dinâmica e do seu papel, por exemplo, na
questão das mudanças climáticas”, afirmou.
Vicente
Andreu, diretor-presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), informou que a
Agência propôs ao MMA (Ministério de Meio Ambiente), integrante do Comitê
Brasileiro da Rio+20, que, entre as reuniões preparatórias e o encontro de
chefes de Estado, haja uma discussão sobre o tema água. Para coordenar o
debate, ele indica o Conselho Mundial da Água.
A
proposta foi feita porque é um assunto que não está aprofundado na pauta
oficial da Rio+20, que acontecerá em junho de 2012. “A água é um tema muito
importante e, por isso, não pode ficar de fora desse evento”, afirmou.
Desafios
Água
é um assunto essencialmente local. Para enfrentar o desafio de sua gestão, com
impacto direto nas pessoas, são necessárias ações de gerenciamento da demanda e
obras para ampliar a oferta de água e saneamento.
Embora
o continente americano tenha abundância de água, a sua distribuição especial,
sazonal, e a oferta para os ambientes urbanos, industriais e agricultura são
muito desiguais e limitadas. “Às vezes, temos uma solução para apenas um dos
problemas e nos esquecemos dos outros. É preciso pensar as múltiplas questões
envolvidas na sustentabilidade e gerenciar ações que possam integrar soluções”,
afirmou Shelley Carneiro de Souza, gerente-executivo de Meio Ambiente da CNI
(Confederação Nacional da Indústria).
Entre
os temas debatidos pelos especialistas no EIMA 8, o saneamento básico foi
destacado como um dos principais desafios a serem superados. O
diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, explanou sobre dados do Atlas Brasil
- Abastecimento Urbano de Água, divulgado em março, e realçou a importância do
diagnóstico sobre a produção de água e mananciais em todos os municípios
brasileiros.
O
Atlas revela que serão necessários investimentos de R$ 22 bilhões em sistemas
de produção de água e mananciais para manter a atual oferta de água em 55% das
cidades brasileiras, até 2015. “É preciso alocar recursos para o planejamento e
gestão, bem como investir na integração das diversas políticas públicas para a
área”, apontou Andreu.
Fórum Mundial da Água
O
presidente do VI Fórum Mundial da Água, Benedito Braga, ao falar das
expectativas para o próximo encontro, destacou a importância da gestão hídrica
e da construção coletiva das soluções. “É importante levarmos para o resto do
mundo uma participação efetiva das Américas e mostrar que acima de intenções
particulares há o interesse maior desse bem comum”, afirmou.
Segundo
ele, as soluções políticas, técnicas e locais precisam ser discutidas e
trabalhadas. “Os Fóruns anteriores já identificaram as principais problemáticas
e agora precisamos decidir que soluções serão adotadas”, afirmou.
Organizado
pelo WWC (World Water Council - Conselho
Mundial da Água), o Fórum acontece a cada três anos, e o próximo, a ser
realizado em Marseille, na França, em 2012, terá o tema “Tempo para Soluções”.
Por Efraim Neto, da Envolverde
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