domingo, 16 de octubre de 2011

As cidades precisam saber o que querem ser

O especialista em mobilidade, Antonio Lucio Gil, participará do Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8), na próxima semana em São Paulo. Em entrevista realizada pela equipe da EIMA 8, Antonio Lucio diz que as cidades precisam saber o que querem ser, e, em boa medida, saber o que são. Licenciado em Direito, o consultor foi diretor-geral de Promoções e Disciplina Ambiental da Comunidade de Madrid. Liderou a área de Meio Ambiente da Candidatura Olímpica de Madrid 2012, do final de 2003 até julho de 2005. É diretor da revista Ecosostenible e membro da Comissão de Meio Ambiente do Comitê Olímpico Espanhol. Antonio Lucio coordena, juntamente com a Rede Nossa São Paulo, o eixo de Cidades do EIMA 8.

Confira a entrevista.

Quais devem ser as prioridades para acelerar o progresso por um desenvolvimento sustentável nos próximos dez anos?

Antonio Lucio: As tecnologias existem, os objetivos, os discursos oficiais e as boas intenções em geral também. Existe oferta de fornecedores e a demanda por bens e serviços. O que falta é combinar todos esses fatores entre todos os envolvidos. Isto significa convicção, compromisso, concordância. Definitivamente, significa governança. Esta governança requer uma maneira especial para exercer a liderança e para implementar os poderes públicos (regras, gerentes, contratação, promoção, etc.). Poderíamos dizer que devem ser novas formas de governança, mas, paradoxalmente, o que pode ser novo em relação à experiência recente também pode ser visto como um retorno à ortodoxia do bom governo. O que eu defendo é transcender os entornos minoritários, elitistas, especializados.

Que setores econômicos considera que são mais importantes para construir uma economia verde que colabore com o desenvolvimento sustentável?

Antonio Lucio: Do ponto de vista subjetivo, o setor público – como o grande criador de demanda e comprador de bens e serviços – tem uma prioridade fundamental na promoção do desenvolvimento sustentável. Eu destacaria dois setores, de naturalidade intrinsecamente urbana: o setor da construção em termos de reabilitação eficiente de edifícios e bairros me parece o mais importante, junto com o da mobilidade urbana. Em relação ao primeiro, cabe destacar um novo paradoxo. Sendo o setor da construção o causador de muitos desequilíbrios, tem agora a possibilidade de ser líder no sentido contrário. Este paradoxo, como diz o ditado popular, aparentemente simples, “é com uma mancha que se remove outra”. Seria, portanto, um fenômeno curioso da redenção.

Qual é o maior desafio que as cidades enfrentam hoje em dia?

Antonio Lucio: Saber o que querem ser, e, em boa medida, saber o que são. Pode parecer existencialista esta perspectiva, mas é disto que se trata. Nós pensamos que o desafio reside tanto em sacralizar os indicadores quantitativos (sejam umbrais de contaminação local ou de distribuição modal no transporte, por exemplo), como em gerar qualitativamente uma visão e uma ambição – compartilhadas e em consenso – sobre que qualidade de vida queremos desfrutar no nosso habitat, urbano, é claro. As cidades têm o privilégio de transbordar talento e recursos para fazer quase tudo o que pretendem respeitando a elas mesmas.

Concretamente, em relação à mobilidade, por meio de que políticas e ações se estabeleceriam estratégias de mobilidade para as grandes e médias cidades nas próximas décadas?

Antonio Lucio: Em algum documento do fórum do Conama, anotei a ideia de que não existem “balas de prata” para a mobilidade urbana, que não se pode passar recibo para essas infraestruturas que se apresentam como “a solução”, em nome de uma suposta “eficácia”, que são articuladas e inauguradas no lapso de um mandato. Frente a esta apelação e instrumentalização interessada da “eficácia”, se oferece a opção do “processo”, no qual concorrem as inteligências e os interesses plurais, inclusive divergentes, para ir avançando nas soluções menos imperfeitas possíveis e o mais coerentes possíveis.
Definitivamente, para a mobilidade urbana, como para outras políticas, desconfio dos pretenciosos exercícios de “racionalidade substantiva”, ou seja, alguém decide de uma vez o que é bom para todos. Confio mais nos exercícios de uma procura coletiva e progressiva destas soluções que antes mencionei. O marco inteligente e adequado para cada caso, que faz possível esta procura é, no meu entendimento, a principal estratégia (sendo instrumental) para a mobilidade urbana. Esta “racionalidade de natureza de procedimentos” é a que, particularmente, se faz mais necessária. Não obstante, tenho dúvidas se algo assim seja bem recebido em geral por quem tem o poder. A cultura de governo no nosso país é a de prevalecer a posição de vantagem institucional, e não fazer concessões de diálogo aos grupos críticos. Estranho as vezes em que se atua de outra maneira por convicção.

Qual é a importância de iniciativas como o encontro EIMA e qual o papel que deve exercer um evento como este num mundo globalizado, mas com tantas barreiras?

Antonio Lucio:  O EIMA é importante, na minha perspectiva, na medida em que atua como estímulo exógeno que cria e fortalece capacidades endógenas para a mudança. As mudanças não se produzirão de forma milagrosa, nem munidas de “chaves nas mãos” por especialistas estrangeiros. As mudanças virão de processos vividos conscientemente pelas próprias cidades, a partir das suas próprias capacidades, da sua quantidade de conhecimento. Às vezes, estas são ativadas com estímulos externos, em contato com redes que operam a modo alcaloide. Definitivamente, se trata de gerar tendências de rendimentos crescentes a partir do caudal de conhecimentos difusos já existentes. Os clusters são espaços imprescindíveis para estas dinâmicas e estes clusters precisam ser ativados em intercâmbios de caudais de conhecimento.


 (Agência Envolverde)

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