A transição para a nova economia depende de uma ampla e profunda mudança nos padrões de produção e consumo. Mundialmente. Precisa, além de outros fatores, de um efetivo crescimento das fontes limpas na matriz energética. A sessão plenária realizada hoje (18/10), durante o Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8) tratou dos principais desafios da matriz energética, usando especialmente os casos brasileiro e espanhol.
Brasil
e Espanha, participam lado a lado do EIMA 8, mas não estão tão par e passo no
tocante a energia. Diferenças regionais, naturais, de governança fazem com que
os dois países tenham características distintas na maneira como produzem e
consomem energia.
Altino
Ventura, secretário de Planificação Energética do
Ministério de Minas e Energia (MME), fez uma comparação entre a oferta de
energia do Brasil e do mundo. “Vemos um cenário interessante no Brasil quando
comparado ao restante do mundo. Aqui, 45% da energia vem de fontes renováveis,
enquanto no mundo apenas 13% da energia é renovável. Com relação à energia de
fontes fósseis, o mundo tem 81%, entre petróleo, carvão e gás natural, e o
Brasil 53%”.
Outra fonte de geração de
energia brasileira importante, demonstrada por Altino Ventura, é a biomassa,
que vem crescendo principalmente com os derivados da cana-de-açúcar (etanol,
bagaço e palha da cana). Esta fonte renovável e limpa tem muito espaço no país
e vem atendendo as demandas do mercado brasileiro e internacional. “O Brasil
tem potencial para expandir sua produção de energia sem que haja competição com
a produção de alimentos. É possível caminhar com sustentabilidade”, afirma.
Nos próximos dez anos,
segundo Ventura, haverá um incremento da biomassa no mercado brasileiro,
principalmente com o uso da palha da cana, que não poderá mais ser queimada,
passando a ser utilizada para gerar energia.
A energia eólica tem
representado um papel relevante no país. “Se olharmos para 2030 o cenário será
ainda melhor. Não há subsídios para a entrada das energias renováveis no
Brasil. Elas estão no mercado, competindo e crescendo.”
Para Ventura, “as condições
favoráveis fazem com que o Brasil seja autossuficiente em geração de energia. O
potencial das fontes renováveis na matriz energética é muito grande”.
Por
outro lado, Isabel del Olmo, chefe do Departamento
de Coordenação-Geral do Instituto para la Diversificación y Ahorro de la
Energía (Idae), comentou que a Espanha não tem tanta sorte como o Brasil,
autossuficiente em geração de energia. E o papel do Idae tem sido importante,
já que a estratégia do Instituto é intensificar programas de economia,
eficiência energética, produção e uso de energias renováveis.
Olmo, que também representa
o Ministério de Indústria, Turismo e Comércio da Espanha, explica que o país,
como membro da União Europeia, tem acordos assumidos no tocante à geração de
energia. “Assumimos uma série de compromissos, por exemplo, redução de 20% das
emissões, incremento de 20% de energias renováveis na matriz e 20% de melhora
com eficiência energética”. A representante do Idae afirma que 50% dos acordos
previstos para 2020 concentram-se no setor de transporte e vão além, dizendo
que a Espanha pretende manter o ritmo de crescimento das energias renováveis
mesmo em períodos de crise.
O mesmo caminho deveria ser
adotado por outros países. Em momentos de crise, os principais projetos
cortados são os que têm como foco a sustentabilidade. Embora haja uma
expectativa de crescimento e força dos chamados projetos verdes, ainda existem
entraves claros à continuidade deles.
José
Antonio Muniz Lopez, diretor de Transmissão da Eletrobras,
comentou que não é necessário atingir um potencial insustentável de consumo de
energia. “Não queremos ter o consumo do Canadá, mas queremos que todos tenham
pelo menos acesso a energia”, afirmou.
Energia
das águas
O diretor-geral brasileiro
da Itaipu Binacional, Jorge Samek,
explica que a escolha da energia hidrelétrica na matriz brasileira é lógica: “a
fonte hidráulica é renovável, sem contar que não usamos nem um terço da
capacidade brasileira”.
A usina de Itaipu é,
atualmente, a maior usina hidrelétrica do mundo em geração de energia. Com 20
unidades geradoras e 14.000 MW de potência instalada, fornece 16,4% da energia
consumida no Brasil e abastece 71,3% do consumo paraguaio. Itaipu produziu, em
2010, um total de 85.970.018 megawatts-hora (85,97 milhões de MWh), o
suficiente para suprir todo o consumo do Paraná durante três anos e sete meses.
Ou então, os três Estados da região Sul por um ano e dois meses. O mesmo volume
ainda abasteceria a demanda de Portugal por energia elétrica durante um ano e
oito meses.
Conforme demonstrado por
Jorge Samek, o Brasil teria que queimar 536 mil barris de petróleo por dia para
obter em plantas termelétricas a mesma produção de energia de Itaipu.
Por Naná Prado, da Envolverde
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